domingo, 30 de novembro de 2008

Minha razão é minha hóstia

Hoje vi uma entrevista com Saramago. Em certa altura, tocaram (como sempre) não questão de Deus e o comunismo, e o grande sábio, respondeu: "Deus não existe. Ponto!". A certeza emanava do homenzinho.

Sempre gostei muito dos ateus. Eles são pessoas especiais e a impressão que tenho é que Deus tem um carinho especial por eles! Conheço menos ateus pilantras do que religiosos éticos. De uma certa forma, creio que a ética de um homem não deve ser definida por sua religião. É o que o próprio Saramago explica: "o animal faz melhor uso do instinto que o homem da razão!". Não é definitivamente pelo fato de seguirmos uma crença religiosa que nos tornamos melhor que os outros ou nem que vá nos levar ao Céu!

Ao longo da história da humanidade, o homem tem usado este conceito, que conhecemos de Deus para muitos fins, e o maior deles é o benefício próprio. Benefício este que vive nas mãos de uns poucos! O a-teu ("não-Deus", em latim) não é aquele que parece desacreditar em um "Deus", mas aquele que parece rechaçar a idéia de Deus que vem se perpetuando a milhares de anos! A compreensão sobre Deus é algo difícil, principalmente quando nos falta palavra para definí-lo, por esta razão creio que os ateus terminam se opondo a idéia do Deus vingativo, vulgar, aquele que se alia aos interesses de alguns poucos, ou mesmo permite que tantos males assombre a humanidade. Ou quem sabe terminam acreditando que Deus não existe justamente por este último!

Estas idéias de Deus parecem ser vazias, como se tivéssemos que lidar com a idéia de que a qualquer momento fôssemos deixar de existir por causa dele, como se fôssemos seres abjetos e à mercê de um déspota. E sempre que queremos convencer a alguém de que Ele existe, recorremos a citações da Bíblia. Como diz Saramago: "este é um livro que não deveríamos dar para qualquer adolescente, pois só se passa assassínios, mortes, tragédias, traições!". E nunca paramos para compreender o que nos tenta dizer este livro milenar!

Gosto da palavra "agnóstico", o que de forma alguma significa "não crer", mas sim "é difícil explicar a nossa crença!". Acho que um ateu não passa de um agnóstico, que no alto da sua sinceridade prefere dizer que Deus não existe... obviamente, deve se referir àquele Deus imposto por quem prefere usá-lo para o poder. Instituições religiosas em todo o mundo cada vez dão prova disso, e infelizmente há pouca gente sincera que possa mostrar hoje em dia que o caminho da ética, bondade e caridade está além de um culto ou de um dogma, mas reside na razão humana em discernir o que é bom e mau, tarefa nada fácil...

Para terminar, peço licença ao Rappa para citar um de umas das suas músicas: "tentei ser crente, mas meu Cristo é diferente, sua sombra é sem cruz... naquela luz."

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