quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009, mais do que isso

Mais um ano e não tenho o que reclamar da vida! Muitas coisas aconteceram de boas em 2008... Talvez o que mais aprendi, com tantas coisas boas, é uma verdade que pra mim parece inabalável: até para o sucesso precisamos estar preparados!

Não adianta seguir em frente, compartilhando ao mundo o seu sucesso, pois isto incomoda! Os velhos sentimentos que tanto perseguem o ser humano, tão demonstrados nas grandes tragédias gregas, parecem continuar em torno de nós. Então, não basta apresentar ao mundo o seu sucesso, mas é preciso estar pronto para ele... Porque, caso contrário, pagamos um alto preço.

Enquanto houver sentimentos medíocres, mascarados em justificativas vãs, precisamos mesmo ter cuidado em compartilhar o sucesso. Mas acho que também encontrei um antídoto para isto tudo, explicado por um poema de Mário Quintana:

DA OBSERVAÇÃO

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Um grande 2009 a todos nós, e que nossos sucessos sejam bem vindos, mas, mais do que isso, estejamos mais bem preparados para eles, tanto como para as derrotas que vierem. A vantagem destas últimas é que podemos ver melhor onde erramos, pois nos ensinam de forma mais direta...

Tempo

Para todos, ofereço uma mensagem do Drummond:

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

...Para você,

Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,

Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,

Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,

Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.

Mas nada seria suficiente...

Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Aprendendo a desejar

É engraçado como a força das tradições durante centenas de anos consolidam sentimentos e razões que passamos a cultivar ano após ano. O Natal é uma delas. Na verdade, o Natal é a comemoração do nascimento de um Grande Homem que NÃO nasceu, de fato, no dia 25 de dezembro. Alguns estudiosos acreditam, entretanto, após o estudo de algumas dicas dados em textos apócrifos ou na própria Bíblia, que Jesus nasceu entre março e abril do ano 7 ANTES DE CRISTO. Engraçado que essas tradições incluem o Papai Noel e a troca de presentes, símbolos que parecem não estarem correlacionados com o nascimento do Grande Homem, mas que são facilmente explicados com as ocorrências históricas relacionadas com esta época.

Historicismos à parte, parece que o que vemos é uma grande mudança na personalidade das pessoas. Vemos as pessoas mais sensíveis e receptivas a falar com as outras. Também podemos notar que queremos sempre desejar bons sentimentos aos nossos próximos, torcendo para que seus desejos sejam atendidos no ano vindouro. E acho que é ai que mora o perigo. Sim, porque o que vemos, parecem ser desejos bem egoístas sendo realizados a cada ano. Porque parece que quando fazemos os votos de que os desejos de nossos próximos sejam realizados, esquecemos que muitos deles podem interferir na vida dos outros e, se muitos são bons para uns, outros são perniciosos para outros.

O que mais acalenta é que, parece também que, a cada ano, melhoramos mais os nossos desejos. Aprendemos mais a desejar, característica típica do ser humano. Um desejo, ao meu ver, não deve ser direcionado ao ter mais, mas ao ser melhor. E isso, nós seres humanos, precisamos aprender todos os anos. Sim, pois desejamos durante os 365 dias do ano, mas só no Natal pensamos sobre estes desejos. Acho que esta época do ano realmente facilita o nosso lado mais sensível, pois é como se estivéssemos abertos a recomeçar, a renovar nossas convicções e expectativas para um ano que está perto de chegar.

Em outras palavras, acho que o desejo da satisfação de nossas "necessidades" deve recair num crivo mais consistente, não significando criarmos uma cama de Procusto para nossas aspirações egoístas, mas imaginar o que realmente importa para nós em termos de crescimento espiritual e o que podemos fazer pelos outros. Difícil, mas a cada ano parece que aprendemos melhor a desejar essas coisas, nem que seja à base do sofrimento...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Temos sempre razão

Nunca uma frase foi tão bem dita quanto a de Saramago: "o animal faz melhor uso do instinto que o homem da razão". É uma frase que se auto-explica, auto-completa e não faz círculos tergiversantes. Podemos aplicar esta idéia a qualquer área em que o ser humano esteja envolvido.

Algum filósofo já disse que o homem é um ser político! Não porque nós temos um potencial para sermos vereadores ou deputados, mas porque o homem é um ser social. Precisamos conviver em sociedade e isso parece despertar uma séria de contextos que nos devem influenciar sermos "vindos de polis", "ta politika", "vindos de cidades", que é em última instância a origem da palavra política. Ou seja, devemos saber viver em aglomerados, com direitos e deveres. E é ai que parece nascer o maior problema de nós seres humanos: os direitos e deveres!

Quase sempre pensamos ter mais direitos que deveres. São as nossas conveniências mais íntimas que nos incita a reclamar mais um que o outro. É impressionante como uma vista rápida de olhos em algumas situações, vemos como distorcemos as circunstâncias ao nosso bel prazer, refugiando-nos em nossas carências e mascarando-nos de juízes da vida: este é o MEU DIREITO, mas o SEU DEVER!

Conveniências servem pra isso, pra nos ajudar achar justificativas para nossas ações mais estúpidas. Ficamos cegos e até mesmo nos damos o direito da contradição. Sim, porque não parece ser possível justificar uma conveniência sem uma contradição em determinado tempo. E vamos caminhando, sem razão aparente... digo aparente, pois a razão é muito simples, apesar de sermos uma animal político, vivemos em profunda solidão. E mesmo aqueles que vivem rodeados de pessoas, comumente vivem mimetismos superficiais determinados pelo grupo. São as escolhas de cada um...

Parcialmente sãos, parcialmente loucos, vamos caminhando para uma expectativa espetacular de que um dia seres de outros planetas invada a terra e nos salve, e pouco a pouco vamos esquecendo os nossos deveres. Deveres de sermos honestos para com nós mesmos, de sermos apaixonados pelo que fazemos independente de quaisquer circunstâncias, de seguirmos uma razão para além de algumas convenções sociais que nos impelem a comportamentos esquálidos de amor próprio.

Enfim, mas não por fim, razão está provado que temos ou que pelo menos existe, porém parece que fazemos uso dela de uma forma bastante cega...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Supermercado das emoções

Rótulos servem comumente para estamparem características e nomes de produtos. Todo produto tem um rótulo, pois se assim não o fosse, algumas coisas seriam difíceis de caracterizar, como por exemplo, aspargos. Imagine se toda embalagem de aspargos viesse sem um rótulo, creio que ninguém compraria isso! Visualmente, aspargos são totalmente sem graça, meio esbranquiçado, meio esverdeado, parecem lembrar uma mini cana-de-açúcar meio verde, meio branca.

Enfim, rótulos são necessários! Acho que partiu dai a necessidade do ser humano de rotular tudo: louras são burras, homens são canalhas (quando se tratam de mulheres), fulano é isso, sicrano é aquilo! O bom do rótulo é que depois que o usamos, não precisamos mais pensar sobre aquilo: o produto está caracterizado. Não precisamos ter muito trabalho para definir que um aspargo é mesmo um aspargo, pois alguém já rotulou aquilo de um aspargo!

Rotular é uma coisa que até nos ajuda quando nos falta palavras: "isso é muito esquisito". Tudo que é "esquisito" parece algo extra-terrestre, mas enfim teimamos em utilizar esta palavra pois é mais conveniente. Quando encerramos um determinado pensamento, estampamos um rótulo, pois aquela coisa parece ter uma "cara" pra gente... E prosseguimos com nossas experiências. Mais adiante, vemos algo mais ou menos parecido com algum rótulo do passado e buscamos em nosso banco de dados, ou seria banco de rótulos?, para ver qual aquela que mais se adequa a pessoa ou situação a nossa frente. É verdade que isso parece nos poupar imenso tempo em pensamentos intrincados sobre determinada coisa. Outras vezes, para disfarçarmos, passamos a usar rótulos mais disfarçados sob a égide do cinismo, para não nos fazermos notar. Mas quase sempre o rótulo parece aquele pensamento acostumado, envelhecido pelo tempo, guardado num baú, onde rapidamente podemos buscá-lo para nos defender dos terríveis "inimigos externos".

O engraçado dessa história toda é que rotulando ou sendo rotulado, a humanidade caminha a passos largos para uma superficialidade que abrange mais e mais a sua própria frustração. E isso não é uma conclusão, porque se fosse, seria um rótulo e não gostaria de terminá-lo assim...