sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Bebês vêm com manual?

Eu e minha esposa esperamos algum tempo para ter nosso primeiro filho. Pensávamos sempre no preparo psicológico necessário para criar um! Maturidade sempre foi nosso principal questionamento, mesmo sem saber até que ponto deveríamos esperar para estarmos maduros...

Enfim, decidimos e tivemos! Ele tá aqui nos enchendo de alegria. O que chamávamos maturidade, hoje acho que tem outro nome: renúncia. Ter filho é renunciar de um monte de coisas. Primeiro de nossa própria comodidade. Renúncia de nosso egoísmo, de nossa necessidade de atenção o tempo todo, de nosso tempo livre para fazer o que queremos e de mais um zilhão de coisas!

Ao longo desses 10 meses depois do nascimento de nosso pequeno, aprendi que renunciar apenas também não é suficiente. É necessário prestar atenção e pensar, pensar muito! Crianças até 1 ano não costumam falar, portanto precisamos ouvir, ouvir muito! Ouvir e aprender com os erros.

E foi assim que fomos lidando com o seu choro. Sua forma mais divina de comunicação. Dizem que bebês não vêm com manual. Mentira! Vêm, sim. Com tudo lá detalhado, estabelecido, inclusive com os famosos "troubleshootings" dos manuais técnicos. O único problema é que o manual está escrito na linguagem deles. DE CADA UM DELES! Como se tivéssemos que reunir todas as páginas ao longo do longo percurso de criação do pequeno! E claro que esses manuais são tema de pesquisas e mais pesquisas científicas. E métodos e métodos são criados para podermos traduzi-los para o nosso linguajar. Mas o pior de todos os métodos já criados chama-se Método Ferber.

Este tipo de tradução do manual do bebê visa transformar seu choro em um único significado traduzido, e chama-se "aprender a se virar sozinho". O objetivo é ensinar o bebê desde a tenra idade a se virar. Em outras palavras: "deixe-nos dormir a noite toda".

Confesso que durante essa curta jornada em que estamos sendo pais, pensamos várias vezes sobre isso: deixá-lo chorar para poder ensiná-lo a dormir. Ainda bem que nunca pensamos nisso ao mesmo tempo, e tinha sempre o outro para argumentar contra. E olhe que já passamos noites bem difíceis, como 99,99% dos pais deste planeta!

E nada foi mais recompensador que NUNCA termos deixado nosso pequeno chorar sem atendê-lo. Aprendemos quase a ler seus pensamentos. À medida que ele cresce, fica mais e mais fácil compreendê-lo.

Oh, que lástima essa realização de um método tão comportamentalista! É o culme do egoísmo de nós seres humanos, que queremos muitas vezes ter filhos para mostrar ao mundo, mas ao mesmo tempo não queremos aplicar a tão árdua renúncia de nós mesmos!

E assim, criamos psicopatas sociais. Aquelas pessoas que cortaram quaisquer enervações de seu corpo com o mundo, porque seu sistema nervoso não foi estimulado com carinho, apenas com "comportamentos"! Pessoas essas que acham que a vida é uma luta por sobrevivência onde os fins justificam os meios, e fazem quaisquer coisas para conseguir o que querem, porque o que impera é a lei do mais forte!

Pais, oh pais! Tentem ler o manual que seus filhos trazem! Não se deixem levar por um comodismo egoísta, que insistem em ensinar às crianças que devem se comportar como nós adultos. Só o amor incondicional pode salvar nossos filhos desses tão tortuosos caminhos e mais que isso, nos salvar de uma culpa tão grande que teremos que carregar quando começarmos a vê-los crescer, tornando-se pessoas sem o olhar compassivo ao próximo...

O choro é a maior forma de comunicação entre nós e nossos filhos. Se compreendemos seu choro, compreenderemos também sua linguagem quando eles começarem a falar. E será mais fácil orientá-los. Mesmo que falhemos por algum motivo na criação desses pequenos, ainda assim levaremos o coração mais leve, com uma culpa mais branda, por sabermos que fizemos tudo o que foi possível e que o resto foi escolha deles!