quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ser ou não ser, eis a questão...

Parece que o ser humano é dado a uma divisão. Acho que é porque somos seres que já nascemos divididos desde o início dos tempos. Se acreditamos na Bíblia, por exemplo, podemos ver que o próprios Adão perde uma costela para poder gerar a Eva. Em outras palavras, é dividido para poder criar sua forma feminina. E é a partir dai que parece que nós, os homens, vivemos em busca de nossa costela amada.

Mas vamos ao que interessa! Nossas sociedades ocidentais parece nos impelir a tomar partido, ou pelo menos, a fazermos partes de um partido. "Parte", "parte-ido", palavras que nos perseguem em toda a nossa vida; se vamos a um psicólogo, este deve seguir a linha freudiana ou junguiana ou lacaniana ou comportamentalista, e ai daquele que se aventure em várias dessas áreas, vai ser "mal-dito" em toda a sua carreira. Na engenharia, na minha área por exemplo de visão computacional, os que seguem a abordagem Fuzzy falam mal dos que seguem a abordagem bayesiana ou markoviana, e vice-versa; os que decidem calcular tudo por geometria falam mal dos que resolvem usar um pouco de "reasoning", enquanto que estes últimos acreditam que os primeiros são tão obcecados por precisão que não percebem que os cálculos que o ser humano fazem são imprecisos e dão certo!

Se passearmos um pouco nas religiões, isso fica muito mais complicado. Poucos são aqueles que acreditam ou mesmo toleram intersecções em termos religiosos. Espíritas não podem participar de missas católicas; seria uma incoerência para um testemunhas de jeová participar de um ritual das igrejas africanas... Ufa! Que cansaço dar só em imaginar que quanto mais o ser humano se torna cindido, mais parece que ele precisa seguir um caminho único, ser uma só pessoa, conformada em um padrão onde outras pessoas sugerem ser o "certo".

Devemos "ser" assim, não "sendo" assado. Algumas pessoas não conseguem enxergar que as coisas se sobrepõem e interceptam e mais ainda: somos seres que precisamos nos realizar através de muitos caminhos, porque não conseguimos ainda encontrar aquele "caminho do meio" que tanto nos sugere o nosso amigo Jung. O que não compreendo (se alguém souber, por favor explique-me) é porquê algumas pessoas precisam impor tanto o que devemos ser ou não. Parece que no decorrer da vida essas pessoas interpretam suas frustrações ou conquistas como se só houvesse um caminho a seguir!

Por mais lógico que pareça ser um caminho, "há mais mistérios entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia pode compreender" para que possamos imaginar que devemos "to rule the world" com nossas convicções sobre determinadas "verdades".

Não é isso que quero para meu filho, e peço que seja castigado se cometer este pecado com ele. Quero que ele tenha um pensamento mais liberto possível e se for necessário que ele tenha que "matar a Deus", que seja feito para que ele possa se realizar em seu caminho, mas desejo que ele nunca esqueça de ser uma coisa: ético, responsável para com a vida e que tenha caráter em suas determinações. Como sei que a vida nos prega tantas peças, ainda assim o perdoarei se falhar em algum momento, mas será difícil imaginar-me o compreendendo, neste exato momento, caso ele desista de continuar tentando...