Quando tinha 16 anos, comecei a comprar nas bancas a série "Os Pensadores". O primeiro pensador da série era o psicólogo Carl Gustav Jung. Nesta biografia inicial, uma idéia expressa por Jung me chamou muita atenção: "o indivíduo possui duas personalidades: uma individual e outra coletiva!".
Senti uma sensação estranha com esta frase: parecia que fazia sentido para mim, mas não conseguia expressar uma conclusão absoluta ou, nem mesmo, relativa sobre o seu significado maior. Resolvi investigar... Fui a biblioteca de um curso de alemão, inscrevi-me e resolvi pegar todos os livros de Jung possíveis.
Quase 20 anos depois, um monte de experiências e uns 10 livros deste autor, entendo melhor o que ele quis dizer... Parece claro que o homem possui uma personalidade coletiva. Quem nunca participou de um evento com muita gente? Parece que nos transformamos. Quando se é um adolescente, por exemplo, ir a um jogo de futebol em que seu time participa, isto parece mais claro: gritamos, choramos, brigamos... Como se aquilo fizesse parte da gente... como se, ao perder, ou ganhar, nós próprios perdemos ou ganhamos, também! Aquele torcedor parece encetar uma faceta da gente que não condiz com aquele outro ser sozinho em seu quarto!
E quando estamos no colégio? Garotas, amigos! Começamos a namorar. Parece estranho, termos uma atitude com uma namorada, diferente de quando estamos com os amigos. Com elas, precisamos parecer mais maduros, com eles precisamos é parecer engraçados!
Lembro-me de um programa que passava na tv: "Anos Incríveis". Era a história de Kevin Arnold e suas experiências. Esta série foi apresentada por mais de 10 anos com o mesmo ator e podíamos ver o Kevin desde os seus 10 anos até o seu casamento e filhos! O incrível desta série foi o auto descobrimento do Kevin. A cada experiência, Kevin se deparava com a sua individualidade e sua personalidade coletiva, a qual ele só se questionava ao final de cada episódio.
É óbvio que Jung vai muito além disso tudo. Quando afirmava que o homem tinha uma personalidade coletiva, referia-se a arquétipos, mitos coletivos e muito mais. Isto foge aqui explicar. Não sou psicólogo, apenas um aprendiz de observador do mundo à minha volta (com meus viezes e preconceitos)... Porém, o que mais me intrigava, era: como uma pessoa poderia ser coletivamente tão diferente do que quando estava sozinho? Por que apresentamos esta dissonância tão grande em nosso ser? E na maioria das vezes nem nos damos conta disso...
Quando começamos a amadurecer, isso parece que se torna especialmente crítico! As mentiras brancas que os adolescentes usavam para se livrar de problemas com os pais, parecem se transformar em mentirar um pouco mais pardas... E manter isso é importante para a sociedade. Vejamos, por exemplo, aquele programa: "O Momento da Verdade" (ou The Moment of Truth, nos EUA). Ganhar dinheiro sendo verdadeiros, especialmente muito dinheiro, parece o verdadeiro objetivo do jogo... Às perguntas mais picantes, ouvimos o auditório vaiar ou aquele longo e profundo som: "oh". Como se nos regojizássemos daquilo que foi dito e nunca tivéssemos passado por tal situação. A verdade é que as peguntas são baseadas em situações coletivas. E mesmo antes da era da informação (sim, aquela época em que nossos pais diziam: "isso não acontecia em meu tempo"), podíamos observar situações como traições, roubos, trapaças e muitas coisitas mais. "Atire a primeira pedra quem nunca pecou!"
Pois é, Sócrates foi condenado à morte por dizer a verdade! Será que não seríamos também!? O fato é parece que não dizemos a verdade porque não queremos. Não dizemos a verdade porque não estávamos conscientes dos nossos atos quando fomos assomados por nossa espírito coletivo... Como justificar a nossa eterna estupidez e insensatez? Se ao menos tivéssemos uma idéia que norteasse nossos atos no momento em que "pecamos", seria mais fácil! E tem sempre a nossa querida instituição religiosa para lembrar que somos pecadores! Seja lá o que tenhamos feito, somos pecadores! Ela só esquece de dizer que o pior dos pecados mora no íntimo de cada um e não fora! "O fato de fazermos sacrifícios para fazer o bem ou o mal não altera em nada o valor definitivo dos nossos atos", diz Nietzsche.
Quando o ser humano se tornar mais consciente de que "já aprendemos a falar sobre sexo, o problema agora é falar sobre poder!", como dizia um velho amigo psicólogo, encontraríamos nossa paz! De qualquer forma, isto é um assunto para outro post!
1 comentário:
E para "colaborar" com o próximo deixo você com mais Jung "Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder prevalece, há falta de amor. Um é a sombra do outro."
Enviar um comentário