Outro dia acompanhei uma discussão iniciada por um aluno de graduação numa lista que participo. Ele parecia estar em crise existencial sobre o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que deveria realizar no final do seu curso de Computação (detalhe, faltavam ainda 3 anos para terminar).
Mas vamos a dúvida: num TCC, o que deveria ser feito? uma pesquisa ou projeto e inovação? Bom, parece que pela própria dúvida, podemos entender o porquê da crise do sujeito: ele parece confundir tudo em uma mesma mistura como se tivesse comendo feijão com "gnocci". Também não é de se espantar, porque até mesmo colegas professores não sabem muito os limites de um TCC. Confesso que durante muito tempo também não sabia, e não estou totalmente certo se o sei de fato, mas vou tentar apresentar o meu ponto de vista aqui, neste pequeno espaço.
Nas minhas primeiras supervisões de TCC (ao todo foram 11 em 4 anos e meio de carreira), mudei várias vezes meu ponto de vista. Primeiro por começar a observar que existem alunos e alunos, e não adianta impor um trabalho de execelência a todos, porque isto não funciona. O TCC, ao meu ver, parece ter um finalidade específica: movimentar aquele aluno que passou quase 4 anos da vida tentando corresponder as expectativas das disciplinas de curso. Não há nada mais penoso que isto: sim, porque para o aluno brilhante, as disciplinas são limitantes; e para os medíocres, as disciplinas são um fardo. Dai, vem o TCC, que deveria (no meu humilde ponto de vista) destravar os medíocres, fazer brilhar os brilhantes e dar um "up" nos medianos. Deveria ser o período de incentivo da criatividade, mas sem esquecer obviamente do método científico. A cópia, obviamente, ou qualquer tentativa de plágio, deveriam ser alertadas sob pena de mediocrizar a todos, inclusive os próprios professores (principalmente aqueles que nem se dão o trabalho de ler ou orientar seus alunos).
Voltando à questão do escopo de um TCC, creio que seja difícil limitá-lo a um bem formado domínio, entretanto, talvez seja possível traçar algumas rotas para que haja mais sucesso, por exemplo:
1) Acho que o aluno deve fazer um projeto que lhe motive. Não adianta impor um projeto que o professor concebeu e precisa de recurso, porque acho que isso na maioria das vezes é prejudicial para ambos;
2) A contribuição de um TCC deve ser muito mais para o aluno do que para a comunidade científica. Se houver esta última, melhor, mas não creio que deva ser o padrão, em todo o caso;
3) Deve haver um rigor científico, pois quanto mais cedo o aluno aprende a fazer pesquisa, melhor. E aqui, devo ressaltar que fazer pesquisa é um termo abstrato; de qualquer forma, pesquisa, em ciência, tem quase sempre andado junto de inovação. Mas inovar pode ser regional ou localmente, levando um determinado método ou técnica para os grupos locais de uma universidade expandirem seu domínios em uma determinada área. O rigor científico deve sempre existir e ser seguido de uma metodologia de pesquisa bem definida, pois é nesta fase que o aluno será preparado tanto para a indústria quanto para a academia. O rigor científico, tanto na escrita quanto em experimentos e até mesmo na análise de resultados, ajudará ao aluno a ser rigoroso com a sua produção em toda a sua carreira;
Enfim, acho que é no TCC que um aluno terá a oportunidade de adquirir e amuderecer talentos para toda a sua vida, tais como: postura de apresentação, construção de uma boa redação, saber procurar as fontes certas de conhecimento, etc. E depois, ao término do curso, provavelmente não teremos aluno pré-parados, mas alunos que aprenderam uma certa dinâmica para além das disciplinas quase sempre "estáticas"!